sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

À venda

À Venda

Eu me vendo
Ou me troco por um beijo,
por juras de amor,
mesmo as falsas,
somente pelo desejo de ter alguém.

Mesmo tendo me acabado em orgias,
em encontros furtivos,
noturnos – como bicho fugido –
e todas as outras leviandades possíveis e imagináveis,
anuncio-me como produto novo. Semi-usado, melhor.


Para ser bem aceito no mercado dispo-me das minhas Baby lokes,
pulseiras,
tiaras,
óculos,
e tudo mais que explicite a minha sexualidade.

Me tranco num armário e trago a tona todas as minhas máscaras.
Faço-me “discreto”, de pseudo hetero, e passo a abominar o sujeito que se assume e não se importa com os olhares alheios sobre ele. Visto-me de “normal”, e mesmo sendo “figura carimbada” nos Darks Rooms e lugares de “pegação”, na rua ridicularizo os “gueis”, as bichinhas, os aboiolados, os afetados, os “guardadores de bolas”, os “frutas”, os “fanta”, os “mordedores de fronha”, os “engulidores de Kibe”, as trava, etc...
Me embrenho nas academias, clinicas de estéticas, me faço corpo sarado – sinônimo de másculo, macho. Atrofio minha autonomia de pensar. Enveredo-me nos Shoppings e faço das praças de alimentação, das boates e todas as outras futilidades, únicas perspectiva de vida e crescimento humano.
Elejo as músicas que debocham de mim – “guei” – como música dos Deuses, e por isso incontestáveis. Comprometo-me a saber todas as coreografias e a me deixar levar sem contestar.

Abdico da minha identidade,
personalidade,
cultura e
Me adequou ao mercado.

Adequado às exigências alheias e
Discriminatórias,
Me coloco à venda somente pelo possessivo desejo de estar com alguém.

Vendo-me barato
ou
Me troco por um beijo,
juras de amor,
mesmo as falsas.

Evandro Nunes

Replic@,

Vendo-me barato no mercado também
não pelo que quero ou nota de cem
mais pelo amém que dissiminaram a mim
negro crioulo quilombola do mato, assim
mais pelo que me fizeram comigo, com nós
correntes chibatas assoites, se calam a voz
me ensinaram seu passos, seu jeito, sua cor
fizeram-me ter odio de mim mesmo, rancor
de doenças a crendos que não são meus
envenenaram meu sangue com os europeus
pregaram piadas, farças, mentiras para nos dividir
o que resta ou sobrou de verdade para mim?
me revender como produto semi-novo melhor
ou entrar nesta guerra dos pontos sem nó.

Ng.F

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